Rita Moreira (Biblioteca Municipal de Loulé)

Foi a 27 de outubro de 1960 que a então vila de Loulé assistiu ao nascimento da sua primeira Biblioteca Pública.

Este importante serviço foi fruto de uma colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian que, após ter ocupado vários espaços, fixou-se na Rua José Afonso, num edifício construído de raiz, financiado pela atual DGLAB - Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas e pela Câmara Municipal de Loulé. 

O novo edifício inaugurou a 29 de dezembro de 2001 e abriu portas a 08 de março de 2002.

O fundo documental que, até então, pertencia à Fundação Calouste Gulbenkian, foi doado à nova Biblioteca Municipal e integrado. Com a mudança para o novo edifício, foi deliberado atribuir o nome de Sophia de Mello Breyner Andresen à Biblioteca Municipal, com o objetivo de prestigiar a escritora. Entretanto, a Biblioteca Municipal tem-se desdobrado por algumas extensões, para se aproximar da população, encontrando-se em funcionamento o Polo de Salir, o Polo de Quarteira, o Polo de Alte e a Biblioteca Itinerante (Bibliomóvel). Muito brevemente, ainda em 2024, abrirá portas o Polo da Biblioteca em Almancil, inserido no Pavilhão Multiusos. Novos projetos em fase de planeamento e conceção. 

O edifício da Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner Andresen é constituído por cave, rés-do-chão e 1º piso. Na cave funcionam as zonas de depósito. No rés-do-chão encontra-se a receção, o serviço de fotocópias e impressão de documentos, a sala polivalente e átrio, a área de periódicos, a área audiovisual, o jardim e uma área de acesso reservado constituída por gabinetes de trabalho e sala de tratamento documental. No 1º piso a área adulto, a área infantojuvenil, a bebéteca, o ateliê de expressão plástica e o cantinho da hora do conto.

Inaugurado a 30 de abril de 2005, o Polo da Biblioteca em Salir conta com um fundo de cerca de 6.400 títulos, repartidos entre material livro e material não-livro.

O Polo encontra-se repartido por três espaços distintos, destinados a leitura presencial de adultos (fundo livro e periódicos), infantojuvenil e audiovisuais (em que se incluem dois postos de audição/visualização e também três computadores com acesso à internet e consulta no catálogo da Biblioteca).

No ano de 2013, a 13 de maio, inaugurou-se o atual Polo de Quarteira, na antiga sede da Junta de Freguesia. O fundo documental do Polo é composto por 8 mil livros e 1100 CDs e DVDs e divide-se nas seguintes áreas: área infantojuvenil, receção, 5 mesas com computadores com ligação à internet, espaço para leitura de periódicos (jornais e revistas), área audiovisual e área adulto.

O Polo da Biblioteca em Alte está integrado no edifício que também alberga o Polo Museológico Cândido Guerreiro e Condes de Alte. Inaugurado a 12 de fevereiro de 2020, agrega os seguintes espaços: leitura e consulta, área de periódicos, área audiovisual, área adulto e área infantojuvenil.

A Biblioteca Municipal de Loulé, que é associada da UNESCO, faz parte das seguintes redes: Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, Rede Intermunicipal daas Bibliotecas do Algarve e Rede de Bibliotecas do Concelho de Loulé.

Atualmente, a Biblioteca Municipal de Loulé tem, no seu fundo documental, uns orgulhosos 107 mil livros que se encontram à disposição de todos e de todas.

JULHO 2024

Clara Andrade (Biblioteca Municipal de Lagoa)

“Os livros não mudam o mundo. 
Os livros mudam as pessoas e as pessoas mudam o mundo”
(inscrição numa das paredes da BML)

A Biblioteca Municipal de Lagoa foi fundada em 1983. Começou a sua existência no edifício do antigo depósito de água, hoje, Arquivo Municipal. Aí permaneceu até ser transferida para o atual edifício, sendo este uma construção do início do século XX e inicialmente destinado a Teatro Municipal que nunca chegou a ser, devido ao profundo desagrado da população que não aceitou a edificação de um teatro, espaço profano destinado a espetáculos, sobre o lugar santo do antigo cemitério, porque, efetivamente, o edifício havia sido construído no espaço do antigo Cemitério.
Até que, em 1992, foi assinado o protocolo entre a Câmara Municipal de Lagoa e o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas para a construção de uma nova biblioteca a instalar no abandonado edifício do antigo teatro.

Concluídos os trabalhos de adaptação e remodelação do edifício, no dia 23 setembro de 1997, celebrou-se a Cerimónia de Inauguração pelo então Ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, na presença do anfitrião, o presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Joaquim Carlos Piscarreta Rego. 

À cerimónia compareceram personalidades e entidades oficiais, mas, sobretudo, compareceu a população de Lagoa que acorreu entusiasmada, expectante e orgulhosa da sua nova Biblioteca, um espaço amplo, moderno e funcional, uma casa de livros e de cultura num edifício excelentemente recuperado. Um lugar de informação, arte e lazer, de múltiplas leituras, de acessos digitais, de palestras e conferências de encontros com escritores e apresentação de obras, clubes de escrita e de leitura, assim como inúmeras ações dirigidas ao público jovem e infantil.

Passados 40 anos de trabalho realizado, de sucessos e adversidades, é tempo de celebração e de reflexão sobre o que se fez e sobre o que pode ser alterado e melhorado. As inovações tecnológicas e digitais, as redes sociais, a inteligência artificial, benefícios e desafios, são realidades que não param de nos convocar e surpreender. Vivemos tempos de possibilidades inimagináveis e imprevisíveis e cujo uso nos coloca sérios questionamentos éticos, sociais e morais, que nos obriga a refletir sobre o lugar e o papel das bibliotecas públicas, sobre o lugar e o papel da Biblioteca de Lagoa. 

Serão necessárias novas respostas, novos projetos e caminhos que implicam atualizações, novos serviços, recursos e atividades, em consonância com as novas tendências e as expectativas de toda a comunidade, incluindo os migrantes, as minorias, os cidadãos socialmente excluídos ou com necessidades especiais. Também modernizar a Biblioteca no caminho, sempre inacabado da transição digital, mas sem esquecer o livro, a leitura e o espaço físico concreto da BML: o lugar que pisamos e onde o encontro, o verdadeiro encontro, é possibilitado.

Ter presente que as bibliotecas são lugares sociais por excelência, lugares de reunião e encontro, lugares de efetiva prática democrática onde toda a gente, sem exceção, pode entrar e usar, expressar-se livremente, debater, refletir, ter voz e opinião. Toda a gente e de forma gratuita. 

Nota: O texto mais desenvolvido será publicado na Arade. Revista do Arquivo Municipal de Lagoa, n.º 2.

NOVEMBRO 2023

Ana Miguel e Inês Colaço (Biblioteca Municipal Lídia Jorge – Albufeira)


O ato de ler acontece mesmo antes da palavra escrita. A leitura assume diversas formas, mas é no texto escrito que a compreensão dos símbolos assume um maior significado. A interpretação que daí decorre, confere ao leitor uma visão mais alargada e aprofundada do mundo que o rodeia.

O papel das Bibliotecas Municipais, na promoção da leitura (já muito estudado e explanado em diversas plataformas) torna-se relevante nas comunidades em que se insere. A mediação da palavra escrita, exercida junto dos vários públicos, continua a ser um dos pilares da sua missão. Proporciona um complemento fundamental na aquisição de ferramentas para a compreensão na leitura, das suas várias camadas, especialmente na interpretação e reflexão do texto escrito.

Contudo, assiste-se a uma rápida mudança de paradigmas, numa era cada vez mais tecnológica. Neste Mundo da “Aldeia Global”, as Bibliotecas Municipais procuram acompanhar estes novos tempos e assegurar ao utilizador, os meios necessários e estratégias inovadoras para o entendimento das leituras decorrentes do digital, assumindo-se de novo, como intermediário / agente social.

No entanto, num Mundo que se digitaliza a cada segundo, não é possível votar ao esquecimento aqueles públicos que por múltiplas razões, ainda se encontram na aquisição do domínio da leitura, na sua vertente mais tradicional.

Aqui, as Bibliotecas Municipais detém um papel fundamental, através de diferentes abordagens, a fim de cumprir a sua missão. Intervir junto dos mais idosos, dos mais isolados (financeira, social ou geograficamente) ou dos migrantes, continua a ser necessário e urgente.

É de extrema importância alcançar a compreensão da palavra escrita para permitir a inclusão no mundo digital, mas essencialmente para dotar o indivíduo da capacidade de compreender e de analisar de forma crítica a realidade que o rodeia. Não basta olhar apenas para o futuro do digital mas, entender que “a leitura”, no seu sentido mais restrito, ainda não é um dado adquirido.

Simplesmente saber ler e compreender o que se lê, constitui uma etapa relevante, reconhecida pelas Bibliotecas Municipais, que não a devem descurar em prol do digital. E é no espaço destas instituições que os dois mundos se podem fundir, permanecendo uma ponte entre o passado e o futuro.

JULHO 2023

 

Tina Castro (Biblioteca Municipal de Castro Marim)

As bibliotecas itinerantes têm, atualmente, em Portugal, uma inquestionável vitalidade.
Quando o bibliomóvel sai à rua, desperta na memória de alguns visitantes e utilizadores a recordação saudosa das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian.

As bibliotecas da Fundação tiveram origem em meados do século XX, por intervenção de Branquinho da Fonseca que, em conjunto com Azeredo Perdigão (Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian), institucionalizaram as mesmas, criando-se, em 1958, o histórico «Serviço de Bibliotecas Itinerantes» com a finalidade de «desenvolver o gosto pela leitura e elevar o nível cultural dos cidadãos, assentando a sua prática no princípio do livre acesso às estantes, empréstimo domiciliário e gratuitidade do serviço». *

Este continua, de facto, a ser o espírito das atuais bibliotecas móveis, que, em Portugal, já totalizam as 72 unidades, das quais, 58 pertencem à Rede Nacional de Bibliotecas Públicas. No que diz respeito ao Algarve, as Bibliotecas que possuem bibliomóvel são: Castro Marim, Loulé e S. Brás de Alportel.

Conscientes do importante papel que o serviço de biblioteca itinerante pode prestar, principalmente, nos lugares mais distantes das sedes de concelho e junto da população com menor grau de mobilidade, a ação dos municípios foi fundamental na recuperação desta prática nunca esquecida pelas populações, investindo em modernos e bem apetrechados veículos, sempre com apoio das respetivas bibliotecas municipais. E assim renasceram as bibliotecas itinerantes.

Atendendo à realidade atual do país, as bibliotecas móveis ganharam novas valências, não apenas no seu fundo documental, que deixa de ser só em formato de papel e passa a contemplar as novas tecnologias áudio e vídeo, mas assumindo, igualmente, um papel social de ponto de encontro e convívio em zonas mais distantes e isoladas dos concelhos a que pertencem. Levam-se histórias escritas, recolhem-se histórias de vida.

Para além dos livros e das leituras, as atuais bibliotecas itinerantes, prestam serviços de proximidade à população de forma a facilitar a vida aos seus utentes, permitindo-lhes acesso a novas tecnologias sem necessidade de se deslocarem kms, como por exemplo, apoio ao cidadão, pagamentos eletrónicos digitalizações e impressões, acesso à Internet e utilização de computadores, ações de sensibilização diversas, animação cultural, recolha de património oral, jogos e promoção de atividade física.

As bibliotecas itinerantes, além destes serviços prestados em prol das populações mais idosas e isoladas geograficamente, constituem, de igual forma, uma forte e bem sucedida aposta nas zonas balneares, permitindo o empréstimo gratuito do fundo documental a visitantes e utilizadores das praias, nacionais e estrangeiros, que aplaudem este livre acesso à cultura e à literacia. No que respeita ao público mais jovem, é notório o encanto sentido pelas carrinhas transformadas em pequenas bibliotecas.

Para os técnicos/as das bibliotecas municipais, esta experiência de proximidade torna-se uma missão, é praticar serviço público de excelência, gratuito e para TODOS.

Longa vida às bibliotecas itinerantes! 

*www.dglab.pt

OUTUBRO 2023

 

Maria Assunção Constantino, Mariana Ornelas do Rego (Biblioteca de Vila Real de Santo António Vicente Campinas)

As bibliotecas públicas têm vindo, ao longo do tempo, a assumir um papel de cariz social cada vez mais diversificado, criativo e de notável e exemplar relevo.

Nesse âmbito, e como exemplo do mesmo, a Biblioteca Municipal Vicente Campinas de Vila Real de Santo António criou, no ano de 2019, o Clube Malha de Letras. Desde o seu início, o projeto foi anunciado com a frase: “Tricotando histórias: a malha, o tricot, o saber fazer de outros tempos entrelaçando a literatura de todas as épocas”. Tendo interrompido a sua atividade durante a pandemia, viria a retomá-la no ano de 2021. Desde então, o clube permanece ativo e dinâmico até aos dias de hoje.

O Clube Malha de Letras reúne-se, atualmente, duas vezes por semana, às terças e quintas-feiras à tarde. Este clube foi criado com o firme propósito de vir a ser um espaço de encontro intergeracional e de partilha de saberes de outros tempos e da atualidade. O tricot, o crochet e o macramé, entre outras técnicas, foram dando forma a trabalhos criativos, artísticos e diversificados, sempre com um propósito de cariz social e solidário e primando, a todo o tempo, pelo esmero e dedicação dos seus membros.

Desta forma, diferentes instituições foram já contempladas com aquilo que foi o fruto do trabalho desenvolvido no seio deste clube:

- O Serviço de Neonatologia do Centro Hospitalar de Algarve, em Portimão, recebeu vestuário para bebés prematuros, primorosamente executado;

- Os lares da terceira idade da Santa Casa da Misericórdia de Vila Real de Santo António foram contemplados com mantas coloridas para os idosos usarem e assim alegrarem os seus dias;

- O Refúgio Aboim Ascensão recebeu brinquedos e gorros para as crianças que acolhe;

- O Centro de Acolhimento Temporário da Santa Casa da Misericórdia de Vila Real de Santo António foi contemplado com bens alimentares e de higiene recolhidos através da criação de uma árvore de Natal em crochet, sob a qual a população deixou os seus contributos;

- A casa de acolhimento temporário Uma Porta Amiga, em Tavira, recebeu roupas de casa e também artigos vários de decoração que contribuíram para um maior conforto das crianças e jovens acolhidos por esta instituição. Os mesmos foram recolhidos sob uma árvore de Natal decorada a crochet, na qual se reuniram as doações de particulares e comerciantes de Vila Real de Santo António;

- A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Real de Santo António e Castro Marim recebeu fundos angariados através da venda de materiais variados e muito criativos, produzidos no clube e colocados em diversos estabelecimentos, em Vila Real de Santo António;

- A Associação Ajuda de Berço foi contemplada com bonecos e brinquedos, feitos em crochet, destinados a alegrar a vida das crianças a quem a instituição presta apoio.

- Crianças carenciadas do concelho de Vila Real de Santo António receberam bonecos e brinquedos feitos em crochet, numa ação que contou com a colaboração da Divisão de Ação Social do Município de Vila Real de Santo António para a identificação das mesmas.

O Clube Malha de Letras é pois uma experiência com frutos que revertem para instituições de solidariedade social e para a população mais carenciada, mas também com frutos que revertem para os seus próprios membros, no plano do convívio, do desenvolvimento da criatividade artística, da partilha de conhecimento, da construção de amizades e do crescimento pessoal. 

Com um número crescente de membros, ao longo dos anos, o Malha de Letras tece uma malha que enlaça o são convívio, o esmero e a criatividade com uma prestação democrática, cívica e social de relevância para todos, na comunidade.

JUNHO 2023

 

Artigos dos membros da BIBAL